transexual.
Ela sabia da identidade de gênero de sua filha desde muito cedo, e sua principal preocupação era tentar proteger Zoey, registrada como sendo o sexo masculino.
"A perseguição era constante, a pegavam, jogavam ao chão e diziam coisas horríveis", conta a mãe solteira que vive em uma casa simples com os três filhos em Downey, um subúrbio de Los Angeles, no Estado americano da Califórnia.
"Usavam insultos que eu não me atrevo a repetir. Foi nesta época que Zoey, com apenas oito ou nove anos, começou a falar que não queria mais viver e isso meu deu muito medo. Quando sua filha diz que preferia estar morta, ou quando te chamam na escola para dizer que sua filha quer pular do prédio, você percebe que precisa fazer algo."
Atualmente, depois de anos de sofrimento e incerteza, Ofelia e Zoey finalmente estão recebendo a ajuda que precisam e garantem que, finalmente, podem pensar no futuro com otimismo.
Zoey é acompanhada há três anos pelos profissionais do Hospital Infantil de Los Angeles e começou a transição para poder se desenvolver totalmente como mulher.
Seu caso é parecido com o de centenas de menores transexuais de todos os Estados Unidos que estão recebendo ajuda cada vez mais cedo para que possam viver de acordo com sua verdadeira identidade de gênero.
Progresso
Esta é uma amostra de que está ocorrendo progresso na percepção da transexualidade.
"Os avanços que ocorreram nos últimos anos foram enormes", disse à BBC Mundo a médica Johanna Olson, diretora do Centro para Saúde e Desenvolvimento dos Jovens Transexuais do Hospital Infantil de Los Angelos, que cuida da transição de Zoey.
"É um tema falado cada vez mais abertamente e cada vez mais cedo. Não há dúvida de que a visibilidade da comunidade transexual nos meios (de comunicação) está ajudando. Agora até nas séries de televisão estão incluindo personagens transexuais", disse a médica, uma das principais especialistas deste campo nos EUA.
"Além disso, a internet está permitindo que crianças e jovens transexuais entrem em contato e possam ter acesso a comunidades as quais, antes, não teriam como encontrar. Isto está fazendo com que a visibilidade do coletivo aumente."
Segundo explica Olson, quando iniciou seu trabalho neste campo, há pouco mais de cinco anos, tinha apenas 40 crianças e jovens como pacientes e agora conta com cerca de 340 com idades entre quatro e 25 anos.
"A mentalidade dos pais mudou muito na última década. Cada vez mais estão conscientes de que há formas de ser alternativas."
Bloqueio da puberdade
Segundo Olson, uma das maiores mudanças dos últimos anos é a possibilidade de dar às crianças transexuais os chamados bloqueadores hormonais.
Estes são remédios cujos efeitos são reversíveis, aplicados em forma de injeção ou implante subcutâneo.
Estes remédios são fornecidos para crianças transexuais antes que comecem a puberdade biológica, para que o corpo não produza os hormônios sexuais que produziria normalmente.
"Os transexuais ficam mais vulneráveis quando experimentam a puberdade que não corresponde (à identidade de gênero). É quando vemos que eles sofrem de ansiedade, depressão, tentativa de suicídio ou isolamento social."
Paralisando a puberdade, os médicos evitam que se desenvolvam com os traços físicos e sexuais de um gênero com o qual não se identificam, como a voz grave e pelos no corpo, no caso de meninos, ou seios, no caso de meninas.
Depois, entre os 14 e 16 anos, dependendo do protocolo de cada país, os médicos podem começar um tratamento hormonal para desenvolver os traços físicos de acordo com sua verdadeira identidade de gênero.
A médica afirma que os bloqueadores são seguros e lembra que há décadas eles são usados para crianças com transtornos que levam à puberdade precoce.
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